1.5.09

poema introdutório

O Diabo toca flauta num campo de lírios
e o pacto nervos-alma é denunciado nesse instante..
Todas as coisas, especialmente as flores, têm o ar de quem chega
e ninguém as espera.

Por isso, há óvulos dependurados em todas as árvores
desesperando que os frustrem ou fecundem,
enquanto as mãos dos poetas se entregam como fêmeas
ao insaciável desejo de alma dos objectos inertes.

- Mas, afinal, sentir as coisas é adiar a sua posse,
não é, senhor Diabo, encantador de serpentes?

Adeus, roçar lascivo do devir,
que exacerbas até ao transe
a fome secular com que roemos as coisas!

Adeus, aves felizes, que saturastes de voos inúteis todo o espaço possível!

Adeus, adeus, barcos sexuados e expectantes,
que tendes as proas varadas na memória das viagens
através da solidão que separa as estrelas entre si!

( Oh, este nosso morrer de morte a bordo! )

- Deixai-me simplesmente que dissipe esta lírica e herdada
sensação de baía do ponto de vista do mar.

O que se ama, isso ( di-lo a música ) é o nosso próprio limite.

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