6.3.09
encenação para a morte dum poeta
ENCENAÇÃO PARA A MORTE DUM POETA
Alguém desceu pela lingueta de pedra até ao rio,
transportando uma angústia feita corda
com uma das pontas amarrada ao paredão
e a outra à volta do pescoço.
Deitou-se depois no fundo dum caíque, abriu as pernas
e, encalhando os tornozelos nas forquilhas dos remos,
aí ficou com os pés agrilhoados.
Seguidamente pôs-se a roer, até ao ponto de ruptura,
a outra corda ( a que prendia o barco à margem ).
E, muito antes de a noite se esvaziar de todo
pelo esgoto aberto das pupilas dilatadas,
o rio, em maré viva e na vazante, fez o resto.
Tema:
a jusante do êxtase
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