4.3.09

tragédia ao sol posto

SONHO REQUENTADO


Enquanto o Sol, ébrio de desejo, se desenvencilha da Luz,
hipotecando ao Tempo a sua própria parte de Infinito,
a Noite despe a túnica e fica em vão à espera
da prometida metamorfose eternamente adiada.

A única referência para o debuxo do poema é o coaxar das rãs
no charco onde, por reflexão, se precipitam os astros
e, por sadismo, se afogam os poetas.

As aves não dormem, simplesmente esperam,
tal como a Noite,
que o mesmo Sol as transforme em voos de pura claridade
e em gorjeios matinais eficazmente obscenos.

E porque as palavras não cabem no silêncio estelar,
renuncio à minha própria parte de Infinito
e concedo-lhes espaço nos meus versos.

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