31.10.08
seara
da poesia enquanto objecto poético
...
In the East poets are sometimes thrown in prison--a sort of compliment, since it suggests the author has done something at least as real as theft or rape or revolution. Here poets are allowed to publish anything at all--a sort of punishment in effect, prison without walls, without echoes, without palpable existence--shadow-realm of print, or of abstract thought--world without risk or eros.
...
reencontros
Era apenas um reencontro mediado por uma mão pouco cheia de semanas. Férias de Verão imensamente intermináveis. A expectativa crescia a cada momento prolongando em séculos os minutos que teimavam em não passar. Antecipava os carinhos inigualáveis, as carícias de letras escritas nas costas, os ralhetes lambretas depois das tropelias de regras quebradas. Tudo era saudade tudo. Na demora cresceu uma angústia sofregamente alimentada por um medo incontrolável que ruíssem os pilares da Terra, que sucumbissem os meus alicerces que de sólidos tinham pouco ou nada. E foi com uma velocidade olímpica que corri enfim no seu vislumbre, palmeiras distorcidas de verde ramas coroando a passagem dos meus curtos cabelos esvoaçantes, desejando ser a primeira a deliciar-me com as suas envolventes expressões de amor.
visto a capa negra dos estudantes, solene adriano na voz adorada, perguntando notícias ao vento que passa. devolve-me o teu beijo de brisa, hoje, ao acordar. o vento algo me diz.
30.10.08
revelaremos
O que em mim jamais ousei procurar
Ignorando que tu há muito me desnudaras
Por ser pertença tua tudo o que é pertença minha
Revelarás por fim involuntária e nua
O que em ti jamais ousaste procurar
Ignorando que eu há muito te desnudara
Por ser pertença minha tudo o que é pertença tua
big science
29.10.08
somos tu e eu filhos do deserto III
Nesse dia e para cada um dos nossos sentidos acharemos o que nos anestesia.
Os terramotos provocados pelas tuas mãos, nas minhas mãos, oferecerás ao vagabundo mais miserável, e eu também.
O sabor delicodoce dos teus lábios ao morder os meus lábios, oferecerás à mais bela maçã que encontrares, e eu também.
O perfume irresistível do teu corpo que exalo enquanto nos abraçamos, disfarçarás com perfumes luxuosos que te tornam invisível na presença de outros indivíduos, para que eu me perca na globalização odorífera também.
A música das tuas palavras, que faz dançar pássaros no meu peito, perder-se-á no vendaval do quotidiano e a música das minhas palavras que criam ondas de prazer no teu corpo também.
A visão do teu semblante florido que ridiculariza o mais belo quadro esquecerei eu enquanto observar atentamente a tv, e tu também.
do sonho emana a realidade
28.10.08
as melodias e as tágides IV
esta noite fui ao vosso encontro
descendo o rio até aos oceanos
esta noite fui ao vosso encontro
e vós ao meu encontro navegando sobre mim
sou o atlântico
sou o índico
sou o pacífico
esta noite sou a asa do albatroz que vos guia
sou a barbatana do tubarão que vos assusta
sou o banco de areia que vos encalha
sou o mar revolto que vos engole
esta noite desci ao rio
pela manhã evaporo-me
pela manhã evaporo-me
de manhã sou pano nas vossas velas
sou madeira nas vossas proas
sou os ponteiros das vossas bússolas
de manhã sou o sol que vos alumia
sou o sol que vos alumia
à noite as tágides são as vossas estrelas
cantando a melodia dos enamorados
cantando a melodia dos apaixonados
cantando a melodia dos amantes
cantando a minha melodia
cantando a minha melodia
somos tu e eu filhos do deserto II
dos amigos enquanto tratadores de alma
[Centro-me em ti. Concentro-me. Perscruto aspirações enubladas de percepções minhas. Sinais contraditórios. Centro-me em ti. Venço desafios ao nanossegundo. Concentro-me. Perpetuo a longa hipérbole anacrónica. Arriscas a reciprocidade. Mas se: Centro-me em ti. Concentro-me. Centro-me. Concentro-me. Que restará então de mim senão tu próprio?]
A vós pois, tratadores de alma, cresce alegria no quintal
27.10.08
sobre algo
segunda forma
para r.
Liberto um vagabundo grita. Esse vagabundo que cai e se levanta, que prostrado corre ao saber-se afinal preso noutra realidade, noutra pele sedosa e foto sensível que transmite luz no seu espectro máximo. Esse é o lugar preciso.
Um vagabundo passeia-se no teu corpo. Esse vagabundo que se esquiva gracioso das palavras mísseis que envias para um mundo que te quer submissa. Já não reinas solitária no reinado do teu corpo. Estás agora indiscutível nos seus braços. Eu esse vagabundo, já não só, nem algemado, mas amarrado firmemente às tuas raízes, orgulho-me de te ver crescer, no jardim que teimo em regar tão poucas vezes.
promontório
26.10.08
somos tu e eu filhos do deserto I
Somos tu e eu filhos do deserto a correr com os homens e as serpentes, à sombra das macieiras. Encontramos o ardor do sol, escondido nos recantos húmidos do oásis verdejante, onde fazemos amor e criamos pássaros de fogo, que lambem suavemente as folhas das tuas árvores, que se afogam na candura do teu rosto, que se atiçam na solidez dos meus braços, que se transformam em pó na trajectória do nosso olhar.
Somos tu e eu deuses pagãos na nossa própria religião onde raramente vislubramos um sorriso desconhecido. Somos tu e eu a esperança de milhões de anos luz que atravessam o universo inteiro para nos prestar vassalagem. Somos tu e eu um sorriso flamejante num peito nu ferido pela lança dos conquistadores do novo mundo.
as melodias e as tágides III
é esperma do meu sexo
quanto do teu sal
é fluido das minhas tágides
quanto do teu sal
é suor é lágrimas é amor dos nossos corpos
ou das nossas formas que eu perdi a carne do meu corpo
ó mar salgado quantas das tuas vagas
quantas das tuas conchas
quantas das tuas algas
quantos dos teus peixes
são filhos dos nossos beijos
são filhos das nossas mãos
são filhos dos nossos sexos
são filhos do nosso amor
eu e as tágides caminhámos por sobre as águas
eu e as tágides ressuscitámos o morto lázaro de meu nome
eu e as tágides abrimos os olhos ao mar e fechámos os olhos às margens
eu e as tágides erguemos a primeira pedra e pecámos a noite toda
eu e as tágides dormimos já não sei quantas outras noites no deserto
eu e as tágides somos crucificados todos os dias no alto mar
25.10.08
ausências
Da janela vejo sempre um galo no cimo de uma torre. De noite está ligeiramente iluminado. Acho triste nunca ouvir o seu cantar. Se calhar vivo numa cidade.
24.10.08
famous blue raincoat disorder
as melodias e as tágides II
nadei o rio o oceano
nadei as águas nas minhas águas noivas
nadei as noivas das minhas águas e do meu corpo
nesta noite em que não sei o que fiz aos meus olhos
abri ao mar o meu corpo
perdi-me no mar com o meu corpo
e vi-me no mar sem o meu corpo
encontrei no fundo do mar a nova forma do meu corpo
e tanto os meus pés
como as minhas pernas
como os meus braços
como as minhas mãos
como os meus dedos
como as minhas unhas
e os olhos a íris a retina
as pálpebras e as pestanas
tanto a minha voz como a minha boca
tanto os meus lábios como os meus dentes
tanto a minha língua como a minha garganta
enfim inteiramente todo o meu ser
corpo e não corpo
na vida das minhas vidas das minhas águas das minhas noivas
das minhas tágides dos seus cabelos das suas escamas
dos seus olhares dos seus seios da sua pele
enfim inteiramente todo o seu ser
corpo e não corpo
a minha cabeça que não sabe se existe
que não sabe se dormia se vivia se sonhava
se fazia tudo em simultâneo
juntos em simultâneo e as tágides
tantas quantas pude conceber
e agora estou noivo dos oceanos
estou noivo das águas que vieram ao meu encontro subindo o rio
descendo ao leito de sal que é o Tejo
descendo à luxúria de sal que é o Tejo
from beyond
23.10.08
horses
A noite galopa vertical. Sigo o luar, os meus olhos berlindes multicoloridos, que mimetizam o reflexo das luzes néon de móteis baratos à beira de uma estrada qualquer.
Rígido o cérebro debita informação directamente ao motor deste carro, que rosna ferido de impaciência. E a estrada desaparece, a cada curva, a cada segundo.
Cada colina na penumbra lembra os teus seios, e as planícies na noite solitária, iluminadas pelos potentes faróis, são meros reflexos dos meus dedos no teu corpo.
Pelo tubo de escape a música solta-se nervosa, Patti Smith cavalga selvagem, Rimbaud atira a cabeça contra as paredes. Nada impede o trajecto em linha recta, cruzando o traço contínuo entre o crepúsculo e o amanhecer. O reencontro paira horizontal.
A música solta-se cada vez mais alto, Rimbaud desfigurado permanece agora quieto caído a um canto, exausto. Insensível um pensamento martela obliterando os sons que atravessam a atmosfera. E no vasto espaço negro uma melodia mesclada irrompe dos lábios cerrados, um sussurro repetido. Estou a chegar amor, falta apenas um ciclo solar, atravessado por uma noite de retalhos.
De olhos vazios estarei aí outra vez meu amor.
primeira forma
efémeras
http://www.animaseapresenta.blogspot.com/
Passada a penumbra amanhece o olhar seco com renovado interesse no belo e na vida e o horror soçobra em todas as coisas. A transição ocorre sempre que um segundo passa, deixando para trás nada mais do que marcas indeléveis na subjectividade humana, que teima em agarrar-se, teimosa e crente. Cada instante se desdobra num sentido único e intransmissível de todas as coisas efémeras do belo e da vida.
Não serão as efémeras impressões que impulsionam ao sonho milhares de vidas, para lá das vidas objectivas, para lá das vidas despojadas? Os pequenos segredos que descodificam o belo que há em tudo o que nos rodeia, nos extasia.
reinvenções
22.10.08
as melodias e as tágides I
tanta a humidade os poros da minha pele furnas
o meu corpo água que ferve
ferve o meu corpo nas águas do Tejo
é levado o meu corpo nas águas do Tejo
na branca espuma do mar
branco branco branco é a cor do mar
neblina branca branca de lençóis de linho
e vou ao encontro do mar descendo o rio
e vêm ao meu encontro subindo ao rio
as tágides
as tágides
é incerto que tenha acordado esta manhã
pois não fechei os olhos toda a noite
fechei os olhos à noite
e a noite foi verdadeira
certamente acordei esta manhã
pois toda a noite sonhei este encontro
até ao mar descendo o rio
verdadeira a noite
nos braços das tágides
verdadeira a noite
nas guelras das tágides
verdadeira a noite
à superfície das águas
verdadeira a noite
à profundidade das águas
pedras solúveis
vagueio errante no teu suor presa à vida por um fio
sou um ser mutante clonado pelo momento acabado de passar
a busca da ordem cria entropia que te é distante
julgo impossível o sentimento amputado precocemente
rasga-me a alma o choque da eventualidade
lágrimas correm incontroláveis escoam-se no fumo do tempo
do prazer de vagabundear
Hoje não fiz o percurso directo, do trabalho para casa. Longe disso, deixei-me rolar por locais desta cidade onde fui e onde serei.
Do passado projectei o futuro destas ruas, destes prédios e destas árvores no meu quotidiano. E ainda não foi esta tarde que choveu, mas quando os salpicos de chuva lhes puxarem o brilho estarei outra vez a fazer o passeio transviado à minha rotina.
Até lá contínuo a minha vida como se nada fosse. Adoro Lisboa.
21.10.08
passagens
A força do beijo apaixonado como a planura do olho da tempestade, deixa-te à mercê dos meus dedos. Como o encontro obtuso de uma gargalhada e o doce som da tua voz, no qual me deixo possuir pelo teu NÃO e sigo o caminho divagando para lá da noite, para lá do simulacro.
Diz-me que sabes do que falo.
Este é o meu poema para ti a paixão que se esconde.
O sucesso depende apenas de um olhar, de uma canção que se esvai. E o passado que não morre, e a saudade que não se espraia nas tuas costas, suavemente.
Este é o meu lamento para ti a sensação que se escoa.
20.10.08
salas de espera
water box
abstraio-me do sabor amargo embrenhado no tempo presente doutros espaços viverei
freneticamente procurando o sorriso nas letras que flutuam desfalecem
revolvo-me em entranhas minhas avidez ansiedade melancolia
80% H2O, piscina interior na qual me afogo naufrágio esquecido
:
oceano interior confluência das águas
das chuvas dos suores e das lágrimas
do desassossego da realidade II
19.10.08
18.10.08
do desassossego da realidade
conversa sobre a relevância das relações
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uma pequena reflexão sobre o teu encontro
e com o meu estado actual de consciência relacional
apenas um apontamento
para te dizer o que sinto
relativamente às relações de amizade
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todas elas
as relações
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de certa maneira sim
mas há relações para lá desse espectro
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o espectro temporal e a profundidade desse espectro pode variar
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claro que sim
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mas é sempre um espaço e um tempo
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mas a tendência é para a diminuição da profundidade e para a diminuição temporal
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sem dúvida
neste tempo
neste espaço
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o que quero dizer
é que em face
(para lá do que afirmei)
de constrangimentos espaciais e temporais
poucas relações se mantêm especiais
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nós somos o objecto relacional confinados a um tempo e a um espaço
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dentro do leque de relações que tens
resta ainda menos vontade
de manter relacionamentos desinteressantes
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sem dúvida
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e quase se torna opressivo
estar a "contragosto" com pessoas que por alguma razão se cruzaram comigo
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mas o que me surpreendeu positivamente
e considerando o que acabaste de dizer
foi a tua predisponibilidade
para encetar novos relacionamentos
num mesmo espaço
num tempo diferente
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mas tens de manter as tuas opções em aberto
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vi-te e vejo-te com uma alma nova
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e no meio de 10-15 pessoas novas
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com ideias a fervilhar
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há-de haver algumas que nos levam para outros patamares de consciência
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para lá disso
há factos relacionais
que abrem a possibilidade
de uma nova temática poética
quanto mais não seja
a análise comportamental de personagens da sociedade
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eu diria que abre caminho a novas ideias sobre as temáticas poéticas
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é isso
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pelo menos no meu caso
em que as questões relacionais sempre estiveram de alguma forma presentes
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sempre estiveram presentes
mas de uma forma bastante personalizada
pela intensidade dos objectos relacionais em questão
a minha temática relacional é muito especifica
é sempre a mesma conversa
o mesmo poema escrito de maneira diferente
os mesmos objectos
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não é sempre o mesmo objecto
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com honrosas excepções
aquele poema que li
é diferente
é um olhar de fora
mas são poucos
os poemas assim
são mais dificeis
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em princípio são mais difíceis
mas se treinares isso
deixam de ser
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não se trata de treino
acho eu
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achas que não?
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trata-se de encontrar a envolvente certa
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se existe predisposição
para explorar isso
e se meteres na cabeça que é por aí
então acho que o resto é treino
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o defeito (meu)
é que é mais fácil e cómodo falar de nós próprios
do que conjecturar relatar
o alheio
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sim
mas o que relatas
também de certa maneira é reflectido no alheio
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como assim?
quando não falo de mim
é claro que relato o alheio
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isso é o que gosto na poesia
é que é a linguagem mais aberta de todas
e nesse sentido
as tuas problemáticas
têm repercussões no alheio
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mas essa é uma linguagem muito tua
criares "personagens" que não passam de alter-egos
mesmo que seja num pequeno poema
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não no sentido de impores ao alheio
mas no sentido de o alheio se apropriar delas
e torná-las "universais"
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sim
mas aí temos processos de escrita diferentes
eu quando relato factos vividos
quando falo da realidade
falo na primeira pessoa
sou eu
para o bem e o mal
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mas eu também escrevo na primeira pessoa
pelo menos de vez em quando
sou eu
para o bem e para o mal
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mas tu é muito mais do geral para o particular
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mas um eu imaginário
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e eu é mais do particular para o geral
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nós temos abordagens muito diferentes
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eu imaginário=alter-ego
eu não uso muito alter-egos
salvo honrosas excepções