da relevância das palavras como fio condutor da minha vida
a 2 de Janeiro de 2001
As cidades suspensas nas nuvens deixaram de ser alcançáveis
Para que as palavras reclamem o seu direito primordial
As cidades suspensas perderam-se nas nuvens da realidade
Para que o sonho imbuído da cacofonia fonética impere
Onde a carnificina dos inocentes não tem lugar
O oásis deixou de estar nas bocas do mundo
Para que as palavras concretizem estados alterados de inconsciência
Essas palavras que não são mais do que uma unha cravada nas minhas costas
Essas palavras que não são mais do que falsas esperanças
Essas palavras que não são mais do que letras escolhidas ao acaso para tentar racionalizar a loucura animal
Essas palavras - ontem
Que saudades tenho dessas palavras
Palavras quadradas ou circulares que me levavam pelos campos semeados em flor
Sobrevoando girafas azuis, tubarões puxando charruas e homens empunhando granadas poéticas
Essas palavras - hoje
Que arrepio sinto quando lentamente passo pelos meus lábios gretados os meus dedos rugosos com o intuito de apagar o som dessas palavras que não consigo impedir que saiam
Palavras perfumadas ou anódinas num mundo cor de rosa onde mais vale um pássaro na mão do que dois a sonhar
Essas palavras - amanhã
Que futuro terão no meu corpo se me negam as visões que tive quando eram minúsculas na subcutânea pele dos meus dedos
Que futuro terão
Essas palavras amargas no sabor mas doces na forma
Essas palavras fractais que ora correm ora morrem no meu sufoco para te contar o universo inteiro
Essas palavras que espero
Não me habitem onde quer que o meu pensamento se ilumine com a tua presença
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