A cidade já não lança o seu rugido na noite, permanece agora quieta enquanto o vento varre as folha de um jornal amarelecido, onde se proclama o fim do apartheid. A metrópole é de silêncio, abafa a alegria em papel de alumínio, reflecte-se apenas em espelhos luminosos, de pequenas luzes em raras janelas. A cidade encontra-se fantasma como a tapeçaria celeste, gélida e imóvel.
Nós somos a metrópole fantasma, a solidão dos danos colaterais e o inóspito vácuo.
Nós somos o automóvel que desce as avenidas lançando o seu ronronar servil e iluminando os cantos, becos e esquinas com potentes faróis.
Nós somos a fuga do tempo no magnífico asfalto despido, quando os nossos sentidos se enganam pelo reflexo de uma luz há muito extinta.
Nós somos a mega estrutura das vias rápidas onde um aceno de cabeça se devanece na corrida louca contra um tempo imutável.
Nós somos a violência desta cidade, omnipresente no arame farpado, nas vedações electrificadas, na patrulha policial armada - 24 horas por dia.
Esta cidade não repousa quando o sol se põe permanece em perpétua vigilância. Esta cidade não rejubila quando a noite desvanece e se ouvem gritos abafados nos jardins de betão armado. Vida após vida adormece fumegante no solo, sem nenhuma dignidade, excepto um cartão de crédito, um telemóvel e uma identidade numérica.
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