24.10.08

as melodias e as tágides II


voei esta noite nas asas das tágides
nadei o rio o oceano
nadei as águas nas minhas águas noivas
nadei as noivas das minhas águas e do meu corpo
nesta noite em que não sei o que fiz aos meus olhos

abri ao mar o meu corpo
perdi-me no mar com o meu corpo
e vi-me no mar sem o meu corpo

encontrei no fundo do mar a nova forma do meu corpo
e tanto os meus pés

como as minhas pernas
como os meus braços
como as minhas mãos
como os meus dedos
como as minhas unhas

e os olhos a íris a retina
as pálpebras e as pestanas

tanto a minha voz como a minha boca
tanto os meus lábios como os meus dentes
tanto a minha língua como a minha garganta

enfim inteiramente todo o meu ser
corpo e não corpo

na vida das minhas vidas das minhas águas das minhas noivas
das minhas tágides dos seus cabelos das suas escamas
dos seus olhares dos seus seios da sua pele

enfim inteiramente todo o seu ser
corpo e não corpo

a minha cabeça que não sabe se existe
que não sabe se dormia se vivia se sonhava
se fazia tudo em simultâneo
juntos em simultâneo e as tágides
tantas quantas pude conceber

e agora estou noivo dos oceanos
estou noivo das águas que vieram ao meu encontro subindo o rio
descendo ao leito de sal que é o Tejo
descendo à luxúria de sal que é o Tejo

Sem comentários: