23.10.08

horses



"Horses" Álbum  de Patti Smith, fotografia de Robert Mapplethorpe

A noite galopa vertical. Sigo o luar, os meus olhos berlindes multicoloridos, que mimetizam o reflexo das luzes néon de móteis baratos à beira de uma estrada qualquer.

Rígido o cérebro debita informação directamente ao motor deste carro, que rosna ferido de impaciência. E a estrada desaparece, a cada curva, a cada segundo.

Cada colina na penumbra lembra os teus seios, e as planícies na noite solitária, iluminadas pelos potentes faróis, são meros reflexos dos meus dedos no teu corpo.

Ainda hei-de morrer pelos teus pecados, hum vais ver como sabe tão bem.

Pelo tubo de escape a música solta-se nervosa, Patti Smith cavalga selvagem, Rimbaud atira a cabeça contra as paredes. Nada impede o trajecto em linha recta, cruzando o traço contínuo entre o crepúsculo e o amanhecer. O reencontro paira horizontal.

A música solta-se cada vez mais alto, Rimbaud desfigurado permanece agora quieto caído a um canto, exausto. Insensível um pensamento martela obliterando os sons que atravessam a atmosfera. E no vasto espaço negro uma melodia mesclada irrompe dos lábios cerrados, um sussurro repetido. Estou a chegar amor, falta apenas um ciclo solar, atravessado por uma noite de retalhos.

De olhos vazios estarei aí outra vez meu amor.

Ainda hei-de morrer pelos teus pecados, hum vais ver como sabe tão bem.

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