27.10.08

para r.



Um vagabundo sussurra. Esse vagabundo sussurra mas nenhum outro escuta o murmúrio da água escaldante nas areias do deserto. A pacífica sirene ecoa através do tempo e do espaço interiores, intravenosa serpenteia, depressiva, imensa de cores berrantes e efeitos doppler, como cartas lançadas ao ar, como punhais atravessando a carne tenra de um sonho.

Liberto um vagabundo grita. Esse vagabundo que cai e se levanta, que prostrado corre ao saber-se afinal preso noutra realidade, noutra pele sedosa e foto sensível que transmite luz no seu espectro máximo. Esse é o lugar preciso.

Um vagabundo passeia-se no teu corpo. Esse vagabundo que se esquiva gracioso das palavras mísseis que envias para um mundo que te quer submissa. Já não reinas solitária no reinado do teu corpo. Estás agora indiscutível nos seus braços. Eu esse vagabundo, já não só, nem algemado, mas amarrado firmemente às tuas raízes, orgulho-me de te ver crescer, no jardim que teimo em regar tão poucas vezes.  

Errática, sublime e exuberante esta é canção que sussurro.

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