26.10.08

somos tu e eu filhos do deserto I


Voa se o espelho te devolve as asas para voar. Mergulha se o joelho ao tocar uma coxa te envolve num mar de carícias. E se o rosto distorcido pelas lágrimas afogar momentos deslumbrantes, a mão a descer pelos seios floridos continuará a espairecer o cérebro na direcção do firmamento.


Somos tu e eu filhos do deserto a correr com os homens e as serpentes, à sombra das macieiras. Encontramos o ardor do sol, escondido nos recantos húmidos do oásis verdejante, onde fazemos amor e criamos pássaros de fogo, que lambem suavemente as folhas das tuas árvores, que se afogam na candura do teu rosto, que se atiçam na solidez dos meus braços, que se transformam em pó na trajectória do nosso olhar.

Somos tu e eu deuses pagãos na nossa própria religião onde raramente vislubramos um sorriso desconhecido. Somos tu e eu a esperança de milhões de anos luz que atravessam o universo inteiro para nos prestar vassalagem. Somos tu e eu um sorriso flamejante num peito nu ferido pela lança dos conquistadores do novo mundo.

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