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será sempre a linha de seda
da marítima aranha a marcar
o destino azul dos tesouros subaquáticos numa redoma de plástico
pacientemente à espera
de um outro fio
que será sempre luminoso
ainda imóvel como as gotinhas de sal
bombardeadas pelos ventos
arrastando os seres marinhos
e tu placidamente envolvida
pela cortina de vapor do ondulante mar
absorta no bafo de um navio encalhado
onde os tesouros à muito esperam ser encontrados
como as mão de junco
que encontram esses cactos e hortelã serpenteando
esses seios imitadores das dunas
matéria de areia
como a claridade das noites branca
sem que passa uma onda nostálgica de dez metros
na linha do horizonte
enquanto os animais e as plantas
ensombrados pelo azul do céu e do mar
se vestem de todas as cores do arco íris excepto esse azul ofuscante
marinho
omnipresente
e tu com essa saia maravilhosa azul
reclamas a mesma imponência majestosa
do brilho que observo
vejo agora uma incomensurável ampulheta
não de areia
mas de sonhos
que é a vida
marca uma vida
e vão escorrendo os filhos oníricos
que marcam o tempo
e as traineiras que passam na barra
marcando a presença
das suas sirenes
no lusco-fusco
só porque te vêem ao longe
e trazem lantejoulas
em forma de escamas
para continuar a cobrir
o teu vestido de noite
para que possas brilhar na disco
até ao primeiro raio de sol
as traineiras com as suas redes
enredam-se no teu olhar
confundem-se nos teus lábios
com as guelras em forma de rosa
que trazes na boca
que dizes?
será sempre o destino
a marcar o compasso dos sonhos
escorrendo nessa imensa ampulheta?
nessa imensa ampulheta
que só é atravessada pelas plantas dos pés
essa ampulheta omnipresente
que se resguarda no fundo dos oceanos
esperando
pacientemente
pelo toque sensual dos teus dedos de mulher
dos teus lábios de flirt
dos teus cabelos de brisa marinha
dos teus restos de ardor da noite
em que brilhas como um fogo fátuo
sim
és tu
quem calcorreia a areia dessa ampulheta
em busca do segredo do tempo
que escorre para dentro do mar
e se apropria
das tuas rugas em redor dos olhos
e da boca
e das rosáceas bochechas
até que possas fazer parte
dessa imensa ampulheta
..
.
'poema escrito a duas mãos,
uma minha outra do Leonardo Rosado em agosto de 2002'
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